Era uma sexta-feira 13, e eu lembro de cada detalhe como se tivesse acontecido ontem. Tinha ido à casa do meu amigo Marcos para jogar videogame. O tempo passou rápido, e quando olhei no relógio, já eram 9h da noite.
— Já vou nessa, amanhã tenho aula cedo — falei, pegando minha mochila.
Marcos insistiu para eu ficar mais, mas eu sabia que minha mãe ia ficar preocupada. Quando saí, a rua estava deserta, e uma névoa estranha cobria tudo. O silêncio era esquisito, como se o mundo estivesse esperando algo acontecer.
Comecei a caminhar rápido. O frio subiu pela espinha quando percebi que as luzes dos postes piscavam à medida que eu passava por eles. A cada passo, a escuridão parecia me cercar. Senti um arrepio quando ouvi algo atrás de mim, como se alguém estivesse me seguindo, mas quando olhei… nada. Só a rua vazia.
Continuei andando, mas o som de passos, pesados e arrastados, ecoava pela calçada. Parecia que algo estava ali, mas nunca se mostrava. O mais assustador é que quanto mais rápido eu andava, mais os passos se aproximavam. Meu coração batia tão forte que parecia que ia pular pela boca.
Foi então que vi uma sombra. Não era uma pessoa, nem um animal. Era alta, desforme, e se movia como uma névoa viva. Congelado de medo, eu tentei gritar, mas a voz não saía. A sombra se arrastou até mim, e eu senti o ar ao meu redor ficar pesado, como se algo estivesse tentando me puxar para outro lugar.
Com um último esforço, consegui correr. O som dos passos desapareceu, mas agora era o vento que sussurrava meu nome: “Juuucaaa…”. Era uma voz fria, rouca, como se viesse de algum lugar muito, muito distante.
Quando cheguei perto de casa, passei pela velha casa abandonada da rua. Todas as janelas estavam quebradas, mas, naquela noite, eu vi uma luz lá dentro, uma luz fraca e tremulante, como de velas. O pior foi que eu vi uma figura lá dentro, me olhando. Parecia um homem, mas seu rosto era pálido e distorcido, como se tivesse saído de um pesadelo.
Corri para casa, trancando a porta atrás de mim. Mas o medo não foi embora. Até hoje, quando lembro daquela sexta-feira 13, ainda sinto que algo está me observando, esperando pela próxima vez que eu sair tarde… esperando para me encontrar novamente.
No dia seguinte, acordei cansado. Mal tinha dormido, revivendo aquela noite horrível a cada vez que fechava os olhos. O que era aquela sombra? E o que eu tinha visto na casa abandonada?
Quando contei tudo para minha mãe, ela ficou séria, com um olhar que me fez arrepiar novamente.
— Juca… você passou pela casa do Sr. Antunes, não foi? — perguntou ela, em um tom baixo.
Sr. Antunes? O nome fez meu estômago dar um nó. Eu lembrava dele. Ele morava naquela casa abandonada antes de morrer, há uns anos. Era um homem estranho, sempre sozinho. Diziam que ele tinha sido envolvido em umas coisas bizarras quando era mais jovem. Rituais estranhos. Magia negra. Mas isso eram só histórias, certo? Só boatos que as crianças espalhavam.
— Sim, passei por lá… mas… — minha voz falhou.
— O Sr. Antunes sempre foi esquisito. Ninguém se aproximava muito dele, e depois que ele morreu… coisas estranhas começaram a acontecer naquela casa. Pessoas dizem que já viram luzes lá dentro, sombras se mexendo. E tem quem ouça o nome sendo sussurrado ao passar por lá.
Minha mãe parou, e olhou para mim com um olhar que eu nunca tinha visto nela antes. Um medo antigo.
— Antes de morrer, ele prometeu que continuaria por aqui, cuidando do bairro… à sua maneira. Acho que, na sexta-feira 13, ele… aparece.
Naquele momento, tudo fez sentido. A sombra, os sussurros, a figura me observando pela janela quebrada. Não era só a minha imaginação. Eram assombrações do Sr. Antunes. Ele ainda estava lá, preso na casa, vigiando quem se aproximasse demais.
Depois disso, comecei a ouvir mais histórias sobre ele. Meu amigo Marcos me contou que uma vez, quando voltava de bicicleta, sentiu a corrente ficando pesada, como se alguém estivesse puxando ele para trás. Outros vizinhos diziam que suas luzes piscavam sempre que passavam perto da casa. Era como se o velho vizinho estivesse ali, tentando impedir que esquecessem sua presença.
Agora, toda vez que passo por aquela casa — e evito ao máximo fazer isso — sinto que algo me observa, algo que quer me puxar de volta para aquela noite. Desde então, eu nunca mais fiquei fora de casa até tarde em uma sexta-feira 13. Eu sei que o Sr. Antunes está à espreita, e temo o dia em que ele decida me visitar novamente.
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