O Último Suspiro do Ano
Dezembro chegou como quem não quer nada, sorrateiro, com seu calor intenso e os cheiros de comida que começam a escapar das janelas. É o mês em que o tempo parece brincar com a gente: os dias voam, mas as horas insistem em se arrastar quando estamos na fila do supermercado, cercados por panetones e piscas-piscas em promoção.
A cidade ganha um tom diferente. Não é só a decoração exagerada da praça central, com renas que brilham mais que a luz do sol, mas também o jeito como as pessoas andam – apressadas, mas com um sorriso no canto da boca, como se estivessem carregando um segredo bom.
No trabalho, os e-mails se multiplicam como formigas perto de açúcar. "Vamos encerrar isso antes do recesso", dizem todos, ignorando o fato de que dezembro tem só 31 dias e não 45, como parece ser necessário para cumprir todas as tarefas. E aí vem a reflexão anual, a famosa lista mental de promessas não cumpridas: a dieta que ficou no terceiro dia, o curso que nunca passou da introdução e o livro que ainda está na estante com o marcador na página dez.
Mas dezembro não é só cobrança, é também nostalgia. Olhamos para trás, revisitando memórias que parecem ter acontecido ontem. Aquele churrasco no carnaval, a viagem que nunca saiu do papel, o amigo que a gente prometeu visitar "assim que as coisas acalmarem".
E então, como uma dança ensaiada, chega o Natal. A mesa cheia de pratos que não combinam entre si, mas que fazem sentido na tradição familiar. A conversa animada, os risos, as crianças correndo ao redor da árvore. E quando o relógio chega perto da meia-noite, é impossível não sentir aquele calor no peito – uma mistura de gratidão e saudade.
E o Réveillon? Ah, o Réveillon é outra história. As roupas brancas, as superstições, o barulho dos fogos – que assustam os cachorros, mas encantam os olhos. O momento de pular as sete ondas, seja na praia ou na poça que sobrou da última chuva.
O ano novo chega e, por alguns segundos, tudo é possível. "Dessa vez vai ser diferente", dizemos, entre abraços e brindes. E talvez, só talvez, dessa vez seja mesmo.
Porque é isso que dezembro faz com a gente: termina e começa ao mesmo tempo. Um lembrete de que a vida é como um livro de crônicas – cheio de pequenas histórias, algumas engraçadas, outras dramáticas, mas todas nossas.
E lá vamos nós, mais uma vez, virar a página. 🌟
Perguntas sobre o texto:
Múltipla Escolha
O que simboliza o mês de dezembro no texto?
a) Um período de trabalho árduo e sem pausas.
b) Um mês de reflexões e memórias.
c) Um momento exclusivamente voltado para compras.
d) Uma época sem importância no ano.Qual é o tom predominante da crônica?
a) Triste e melancólico.
b) Sarcástico e agressivo.
c) Leve e reflexivo.
d) Científico e objetivo.
Verdadeiro ou Falso
- A cidade muda em dezembro apenas por conta da decoração natalina. ( )
- O texto menciona que o Réveillon é repleto de tradições e superstições. ( )
Preenchimento de Lacunas
- Segundo o texto, o tempo em dezembro parece ______, com os dias ______ e as horas se arrastando.
- Durante o Natal, a mesa está cheia de pratos que não ______, mas que fazem sentido na tradição familiar.
Resposta Curta
- Qual é a mistura de sentimentos que as pessoas sentem durante o Natal, de acordo com o texto?
- Por que o autor compara a vida a um livro de crônicas?
Dissertativa
- De que maneira a crônica reflete sobre a passagem do tempo e as promessas não cumpridas durante o ano?
- O que o texto sugere sobre a relação das pessoas com o final de ano e os momentos de celebração?